Está tudo bem com minha alma. Não é mesmo?

Vivemos em um mundo extremamente egoísta. Infelizmente! O título proposto acima descreve exatamente a preocupação deste século: auto satisfazer-se por completo, até que a alma fique abarrotada. Digo à toa, sem pretensão alguma. Sei que palavra qualquer que escrever aqui (por si mesma) não terá poder para transformar pessoas, qualquer que seja, ainda assim insisto!

Poderia generalizar a questão, o planeta de fato é egoísta! Não é mesmo? Todavia, neste momento, atrevo-me escrever tão somente para cristãos.

Cristãos, não deveriam ser egoístas, mas com as atitudes da lida endossam as palavras de Jesus, “no fim dos tempos o amor de muitos se esfriarão”. E assim a vida segue e dia após dia os crentes se conformam ou se sujeitam aos sofismas cotidianos e muitos deles aparentemente agradáveis.

A bíblia?  Nem se lembra o último dia que a leu; deve ter sido através do projetor no culto de domingo, ou talvez numa mensagem inconveniente recebida pelas redes sociais. Provável que não, tem faltado “bíblia” até nos sermões. Não é mesmo?

Não fosse assim, talvez, mesmo que dado ao acaso, encontraríamos outros trechos das Santas Escrituras, estes mais incentivadores, de autoria também de Jesus, por exemplo “que meus discípulos serão conhecidos (ou, identificados) pelo amor. E agora? O que seria isso? Uma contradição? Não! Absolutamente, não! Nosso dever! Amar a Deus e ao próximo.  Não é mesmo?

Desculpe-me a franqueza, mas alertei que estava escrevendo à cristãos. E se te ofendi, sinceramente, me desculpe! Talvez você não deveria estar lendo. Não é mesmo?

O americano Francis Schaeffer, teólogo cristão evangélico, filósofo, pastor e escritor, falecido em 1984 escreveu sobre a igreja do século 21 em sua obra intitulada “O Grande Desastre Evangélico”. Seria um presságio ao tempo que chamamos de hoje? Acredito que não, penso que profecia seja o termo mais adequado a nós cristãos, ele disse: “Eis o grande desastre evangélico: a negligência dos cristãos em defender a verdade como verdade. Há uma palavra para isso, acomodação. A igreja Evangélica se acomodou ao espirito mundano desta época”.

É… Eu sei que é pesado, foi escrito para mim. Também sou cristão, desde já não se esqueça disso, por favor. Acredito que a falta da leitura bíblica aos cristãos não os faz saber a quem de fato estão servindo, pois, sem a absorção da palavra parece que servimos a um deus fraco, e, se assim fazermos, sem perceber, nos sujeitaremos às migalhas do evangelho, e não nos assentaremos à mesa para nos fortaleceremos da poderosa ceia do Senhor. 

Embora essa citação e o título proposto ao texto seja realidade lamentável para nós cristãos, não é esse o assunto que pretendo discorrer aqui, ainda que a pauta seja de extrema importância para discussões entre nós cristãos. Fiz essa abordagem inicial, que pode também ser chamada de uma aparente falsa introdução, apenas para sinalizar a necessidade de discutirmos sobre a real postura de um cristão no mundo.

O título, para quem não conhece é o nome de um dos mais importantes hinos cristãos de todos os tempos. Para nós brasileiros a canção foi traduzida como “Sou Feliz”. A letra da música, além de impressionante, nos revela algumas coisas comoventes: o consolo e a fé inabalável de um homem no Deus Eterno, e o tempo que passa de qualquer jeito, independente de nossa dor ou da nossa postura diante dela.

Sobre o tempo é que eu quero escrever, mais precisamente o passar do tempo.

Horatio G. Spafford compôs este belo hino no ano de 1873. 

Esse homem era cristão e um advogado de sucesso, morava em Chicago USA, e além de um grande escritório na cidade, havia investido a maior parte de sua fortuna em outros empreendimentos no município. Em outubro de 1871, aconteceu um dos maiores incêndios da história dos Estados Unidos, a queimada devastou Chicago, incinerou seu escritório e culminou a perda de praticamente toda sua fortuna, pois a maioria dos seus investimentos sucumbiram com a catástrofe. Horatio permaneceu na cidade por dois anos, se esforçando para recuperar o máximo possível de seus investimentos. Não bastasse esse infortúnio, neste tempo, sofreu também a perca do filho por morte natural.

O terrível abalo financeiro e sobretudo a dolorosa perda do filho trouxe tamanho sofrimento para a família. Em busca de um tempo de refrigério e descanso, decidiu viajar com a esposa e as quatro filhas para a Europa, pretendiam passar um bom tempo em cruzadas evangelísticas na Inglaterra com o amigo que o tinha ganhado para Jesus. Havia comprado a passagem para toda a família e embarcariam em novembro de 1873 no navio S. S. Ville du Havre, porém, como não conseguiu resolver a tempo todos os compromissos de negócio antes da viagem, decidiram que a família seguiria viajem conforme planejado, e, ele tomaria outra embarcação dias depois.

Em 21 de novembro daquele ano, o navio sofreu um acidente ao colidir com uma embarcação de ferro, Ville du Havre foi a pique naufragando em apenas 12 minutos. O acidente ceifou a vida de 226 pessoas, dentre elas, as quatro filhas de Horatio, restando-lhe apenas a esposa.

Horatio embarcou em outro navio ao encontro da esposa. Enquanto atravessavam o oceano Atlântico, pediu ao capitão do navio que lhe indicasse o local provável do acidente. Quando o capitão lhe apontou o lugar, Horatio, emocionado compôs esta canção:

 Sou Feliz 

Se paz a mais doce me deres gozar,

Se dor a mais forte sofrer,

Oh! seja o que for, tu me fazes saber

Que feliz com Jesus sempre sou!

Sou feliz com Jesus, sou feliz com Jesus, meu Senhor!

Embora me assalte o cruel Satanás

E ataque com mil tentações,

Oh! certo eu estou, apesar de aflições,

Que feliz eu serei com Jesus!

Meu triste pecado, por meu Salvador,

Foi pago de um modo cabal;

Valeu-me o Senhor, oh! mercê sem igual!

Sou feliz! Graças dou a Jesus!

A vinda eu anseio do meu Salvador

Virá conduzir-me ao Lar:

O céu, onde vou para sempre morar

Com remidos na luz do Senhor!

Esta é a versão em português, a tradução literal do texto escrito em meio a prantos, soluços e incontáveis lágrimas (assim eu imagino), diz o seguinte:

Está tudo bem com minha alma

Quando a paz, como um rio, atravessa o meu caminho

Quando tristezas como as ondas do mar me inundam

Seja o que for a minha porção,

Tu me ensinas que tudo está bem com a minha alma.

Tudo está bem, tudo está bem com minha alma.

Ainda que Satanás me ataque, se provações me vêm

Que eu deixe esta segurança controlar-me:

Cristo já considerou a minha triste situação,

E derramou o Seu próprio sangue pela minha alma.

Para mim, portanto, viver é Cristo daqui para frente.

Se o Jordão acima de mim rolar,

Nenhuma dor intensa provarei,

Pois na morte e na vida Tu hás de sussurrar paz para a minha alma.

Senhor, é por Tua vinda que nós esperamos

O céu, e não o túmulo, é o nosso alvo.

Ó trombeta do anjo, ó voz do Senhor,

Esperança e descanso abençoados da minha alma!

Depois disso, Horatio e sua esposa tiveram mais três filhos, duas meninas e um menino. Em 1880, quando o rapaz que herdou o mesmo nome do pai tinha 4 anos de idade morreu por uma doença infecciosa. Em 1881, Horatio se mudou com a família para Jerusalém, lá encontrou um grupo de cristãos suecos e juntos fundaram uma missão de muita relevância entre judeus e mulçumanos, trabalhando em hospitais, orfanatos e preparando refeições, dentre outras obras de caridade. Tenho certeza que Horatio manteve-se firme até sua morte por malária em 16 de outubro de 1888, quando recebeu de cristo a coroa da vida. Que privilégio!

Em 1876, o famoso cantor e compositor evangélico Philip Paul Bliss, morador de Chicago, conhecendo a história de Horatio e tendo acesso ao conteúdo de seu manuscrito fez a melodia da canção, a tornando mundialmente conhecida.

Por ironia, ele e sua esposa morreram aos 38 anos em um trágico acidente de trem, logo após à composição do hino.

Desde o incêndio de Chicago até sua morte, passaram 17 anos. Horatio poderia ter se feito vítima neste tempo, se revoltado contra Deus ou até mesmo abandonado a fé. Mas não o fez, pelo contrário, as adversidades o consolidaram na rocha, assim como está escrito em Tiago 1:2-3: “Meus irmãos, considerem motivo de grande alegria o fato de passarem por diversas provações, pois vocês sabem que a prova de sua fé produz perseverança.”

Fico imaginando de onde Horatio tiraria força para suportar tão grande sofrimento, se não, de Cristo e de tua santa palavra, inclusive, acredito que o salmo 119:143-144 tenha possivelmente se tornado seus versos preferidos:

“Tribulação e angústia me atingiram, mas os Teus mandamentos são o meu prazer. Os seus testemunhos são eternamente justos, dá-me discernimento para que eu tenha vida.”

Sem dúvida o testemunho de Horatio, eternizado por tão bela canção tem sido por muito tempo instrumento de Deus para consolar outras pessoas em tribulação, tornando vivo o que Paulo escreveu em segunda Coríntios 1:3-4: “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, Pai das misericórdias e Deus de toda consolação, que nos consola em todas as nossas tribulações, para que, com a consolação que fomos consolados por Deus, possamos consolar os que estão passando por tribulações.”

Por muito menos somos persuadidos pelo sistema evangeliquês que indica que, se tudo não vai bem com a alma (mantendo o sentido do primeiro parágrafo) é porque tem alguma coisa errada. No Brasil, esse evangelho barato da prosperidade ganhou força nas últimas décadas, por causa tão somente de nossa negligencia em defendermos a verdade como verdade. Nos acomodamos assim como previu Francis Schaeffer.

Mas o que seria a verdade a final?

A verdade é Jesus! Não disse ele? “Eu sou o Caminho a verdade e a vida, ninguém vem ao pai a não ser por mim.” Portanto afirmo que como Cristãos devemos nos voltar para a verdade, para Cristo, o Verbo, o Criador de todas as coisas.

Mas como voltaremos à Ele?

Nos arrependendo! Não nos acomodando ao espírito mundano desta época. Horatio provavelmente entendeu que o tempo passaria. E passou, não é mesmo? Ou seja, passaria se ele tivesse se acovardado ao espírito mundano que provavelmente o persuadiu a negar o seu Deus, ou crendo em Cristo.

Não sei qual situação você, caro leitor, enfrenta nestes dias, no entanto, creia em Cristo e ouça a voz dele em meio ao caos.

Não se esqueça:

O tempo vai passar. Horatio viveu dezessete anos difíceis, mas conseguiu exalar o bom perfume de Cristo à cada golpe que recebia, ele de fato não se acovardou, pelo contrário, honrou o nome de Cristo, não é mesmo?

Estão vendendo por aí um evangelho, no qual, você paga (e paga alto) para ser aceito por Deus. Esse evangelho caro vende uma graça barata, oferecendo o perdão sem arrependimento.

Isso não existe! Não existe porque o evangelho genuíno é oferecido de graça, mas essa graça custou caro. Tem o preço do criador de tudo dependurado na cruz! Portanto quero te alertar:

Se prepare para quando vier as provações, e te asseguro…

Cedo virá!

E quando vier, lembre-se de que Cristo nos pediu para que o seguíssemos carregando uma cruz dia após dia. Farei isso também, e para facilitar nossa trilha pela verdade vou deixar alguns importantes textos escritos pelo apóstolo Paulo:

Quem nos separará do amor de Cristo? Será a tribulação, ou angústia, ou perseguição, ou fome, ou nudez, ou perigo, ou espada? Como está escrito: “Por amor a Ti enfrentamos a morte todos os dias; somos considerados como ovelhas destinadas ao matadouro.” Mas em todas estas coisas somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou. Rm 8:35-37 

Irmãos, não queremos que vocês desconheçam as tribulações que sofremos na província da Ásia, as quais foram muito além da nossa capacidade de suportar, a ponto de perdermos a esperança da própria vida. De fato, já tínhamos sobre nós a sentença de morte, para que não confiássemos em nós mesmos, mas em Deus, que ressuscita os mortos. 2 Cor 1:8-9

Alegrem-se na Esperança, sejam pacientes na tribulação, perseverem na oração. Rm 12:2

Por esta causa nós nos gloriamos em vocês entre as igrejas de Deus pela perseverança e fé demonstrada por vocês em todas as perseguições e tribulações que estão suportando. Elas dão prova do justo juízo de Deus e mostram o seu desejo de que vocês sejam considerados dignos do seu Reino, pelo qual vocês também estão sofrendo. 2 Tes 1: 4-5

E ainda: Sei o que é passar necessidade e sei o que é ter fartura. Aprendi o segredo de viver contente em toda e qualquer situação, seja bem alimentado, seja com fome, tendo muito, ou passando necessidade. Tudo posso naquele que me fortalece. Fp 4:12,13

Façamos assim como Horatio, honremos ao Senhor acima de tudo, porque o tempo, independente de nossas atitudes passará. E o que são 17, 30, 40, 50, 70 ou noventa anos diante da eternidade? Nada. Não é mesmo?

Antonio Vaz 

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